terça-feira, 4 de setembro de 2007

Quando é bom ser diretor, sem ser estrela

Inicio essa postagem deixando clara minha antipatia à iniciativas impressas, visuais, etc. que tenham por objetivo o comércio de auto-ajuda. Os que acompanham meu blog perceberam minha "discreta" aversão ao documentário O Segredo. Porém, hoje assisti a um filme instigante. Baseado na obra de Irvin Yalom, o filme Quando Nietzsche Chorou é muito interessante, pois, toca em uma questão atualíssima que é a crescente onda de crises existenciais. As eternas indagações "Quem sou eu? Por que estou aqui? Qual o sentido da realidade?" levam o indivíduo a um estado de angústia que pode acarretar em uma neurose perene. Porém, mais angustiante ainda é quando se chega à beira da morte e se percebe que a vida passou... mas não se esteve presente nela em nenhum instante. Acredito que a maioria da população mundial passa pela vida sem perceber ou questionar isso, mas a ilusão do consumo, a interdependência virtual ocasionada pela internet, o afrouxamento dos relacionamentos pessoais, a promoção cada vez maior do individualismo crônico e, principalmente o narcisismo resultam em angústia e depressão. Ocorre, então, um esvaziamento do Ego, em função da culpa-por-não-ser-assim-ou-assado, medo de morrer solitário (apesar de todos nós, querendo ou não, de fato iremos, pois, a experiência da morte é, logicamente, individual), culpa-por-não-ter-feito-isso-ou-aquilo, por-não-ter-se-permitido, enfim, todas essas questões que estão cada vez mais presentes nos consultórios de psicólogos e psiquiatras e divãs de psicanalistas.
Mas quando se cai em uma crise como essa, o indivíduo, ou o Ego do indivíduo, procurará se defender para evitar ou suportar o sofrimento, como, por exemplo, se isolando do meio, sendo agressivo, soberbo ou narcisista. Apesar de serem formas de defesa do Ego aparentemente antagônicas, ambas são meios de lidar com a estrutura psíquica e suas relações com a realidade.
Voltando ao filme, Josef Bauer, médico renomado e professor de Sigmundo Freud ao se deparar (ficticiamente) com o filósofo Friederich Nietzsche, toma por projeto de vida ajudá-lo atenuar sua neurose suicida. Porém, Bauer não imaginaria que o filósofo é que traria suas neuroses à sua consciência e, o médico, então, passa a ser tratado pelo paciente. Romântico, não? Sim. Porém, é interessante perceber que tanto analista e analisando trocaram experiências mútuas e intercomunicações egóicas importantes. Assim, se ajudam mutuamente, se livrando da culpa e do medo. O método proposto pelo filme para conseguir o autocontrole é simples: procure o analista mais próximo, pois, não existem receitinhas de bolo para o fortalecimento do Ego e o encontro da tão afamada "paz interior". Existem, claro, outros métodos bastante eficientes para se atingir tal objetivo, excetuando o divã, porém, o processo é o mesmo: o indivíduo deve mergulhar dentro de si mesmo e perceber até que ponto foi/é coadjuvante em seu processo de vivência e estruturação do Ego.
Esse processo pode ser longo (ou extremamente curto, podendo durar uma noite de sono ou um dia, por exemplo), doloroso (o que é inegável) e pode causar náuseas! Porém, é importante tomar as rédeas do próprio Eu... penso que esse sim, é o verdadeiro Segredo. O caminho para isso é obviamente subjetivo, porém, o grand finalle é o mesmo para todos: sensação de paz e segurança interior (se for esse o interesse, pois, existem pessoas - e não são minoria - que sentem prazer em sofrer angústias e frustrações... mas isso é assunto para uma postagem futura).
Enfim, dirigir o Ego é fundamental para cada ser humano. Ser diretor, nese caso, é de extrema necessidade. Ser estrela nesse "filme" é bom, porém é algo efêmero e acaba em um narcisismo frustrado. Mas não o que não se pode (nem se deve) é cair no engana-trouxa da autoajuda... please!

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